English Woman's Journal - Mexicana Mayra Hermosillo retrata matriarcado em que cresceu com 'Vainilla'

Mexicana Mayra Hermosillo retrata matriarcado em que cresceu com 'Vainilla'


Mexicana Mayra Hermosillo retrata matriarcado em que cresceu com 'Vainilla'
Mexicana Mayra Hermosillo retrata matriarcado em que cresceu com 'Vainilla' / foto: Stefano RELLANDINI - AFP

Quatro gerações de mulheres em um "matriarcado total", um concurso de talentos e uma ameaça de despejo. Com esses ingredientes e muitas memórias, a mexicana Mayra Hermosillo filmou "Vainilla", seu primeiro longa-metragem, que apresentou no 82º Festival de Veneza.

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O filme, exibido na seção "Jornadas dos autores" do festival veneziano e concorrendo ao prêmio de melhor estreia em direção, aprofunda-se nas memórias mais íntimas da atriz e diretora, natural de Torreón, no nordeste do México.

Para realizá-lo, a mexicana de 38 anos, que já atuou em séries como "Narcos: México" ou filmes como "Perdidos en la noche" de Amat Escalante (2023), decidiu cercar-se de "suas amigas mais próximas".

"Eu vim para a Cidade do México para ser atriz, e foi puro 'não', 'não', 'não'; então eu disse: 'vou parar de ser teimosa, não é o meu destino ser atriz'", conta, sorridente, Hermosillo à AFP no Lido de Veneza.

Mas "tinha vontade de continuar contando histórias", então decidiu dirigir. Após tentar emular seu admirado Guillermo del Toro escrevendo "algo como 'O Labirinto do Fauno'" e não "chegar nem à página dois", percebeu algo: "a única coisa sobre a qual posso escrever é algo que realmente conheça".

E assim concebeu "Vainilla" em 2018.

"Comecei a falar da minha família e explorei muitos lugares", explica, para contar a história de Roberta, uma menina de 8 anos que vive com sua mãe, tias, avó e bisavó, além da assistente, em uma casa ameaçada por uma ordem de despejo.

O filme, ambientado no México do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, retrata o mundo em que Hermosillo cresceu, sendo criada por sua mãe. Em determinado momento, foram morar com sua avó, bisavó, uma tia e uma prima: "somente mulheres", nenhum homem.

"É um matriarcado total", afirma a diretora, que acredita que "ali começou a ser semeada a empatia em [seu] ser", ao viver sendo a única menina entre tantas adultas, como acontece com Roberta (Aurora Dávila) no filme.

"Embora você seja pequena ou maior ou adulta, é preciso encontrar maneiras de conviver no dia a dia. E sinto que algo bonito foi semeado em mim naquela época", diz Hermosillo.

Segundo ela, o filme foi feito "com muito pouco dinheiro", mas, com sua equipe, operou-se a "magia": como não podiam rodar todo o filme em Torreón, porque seria caro, reconstruíram sua casa de infância em um estúdio, com base em fotos.

"E com três pesos para iluminação, pois não havia [dinheiro]. Três 'coisinhas' e fazíamos magia com isso", admite, com um brilho de esperança no olhar.

"Se não houvesse amor neste filme, não teria saído como saiu", assegura.

N.Steward--EWJ